O castelo no fundo do vale
não tem mais festejos.
Ficou esquecido no tempo,
virou uma bela ruÃna.
O barco no fundo do mar
não tem mais passageiros.
Ficou repleto de águas,
virou morada de peixes.
O corpo no fundo da terra
não tem mais encantos.
Ficou cheio de vermes,
virou um monte de ossos.
Não são teus esses sobrados
e nenhum dos teus bens.
Tudo o que tens não é nada
teu nem de ninguém.
Não são tuas estas terras
nem as terras mais além.
Nada até onde tua vista alcance
será teu ou de outrem.
Doce ilusão de quem pensa
possuir coisas para o seu bem,
engana-se por inteiro,
pensa ter tanto e nada tem.
Não é teu este dinheiro
nem o que ele compra também.
Tudo o que tens é passageiro
e não vale nenhum vintém.
Não serás nunca um posseiro
mesmo com tudo o que deténs,
não serão teus nem os teus olhos
que a terra há de comer também.
O meio ambiente
é o planeta inteiro.
Ele está na mata
derrubando árvores,
queimando plantas.
Ele está no mar
afogando o oceano,
poluindo as águas.
Ele está no céu
fabricando fumaça,
destruindo o ar.
Ele está nas cidades
promovendo o progresso,
construindo o futuro.
Da flor em aberto
quero apenas o perfume.
Das cidades do mundo
quero apenas um lar.
Das noites de sono
quero apenas um sonho.
Da felicidade possÃvel
quero apenas um riso.
Das leis em vigor
quero apenas justiça.
Da vida para se viver
muito pouco é o que basta.
Eu era ainda um menino quando uma notÃcia no jornal da tevê me causou profunda impressão. Tratava-se da primeira vez que o homem havia captado, através de um satélite, o som da terra viajando pelo espaço.
Emocionado, escutei atentamente aquele som mágico e extraordinário. O som do nosso planeta assemelhava-se a de um ser vivo dentro de um útero luminoso e descomunal. Imediatamente imaginei fazermos parte de uma imensa sinfonia sideral. A terra, nosso lar, junto aos demais astros, emanava seu murmúrio até os confins do universo. E mais, assim como o nossa casa, cada corpo celeste descrevendo sua órbita como se fora participante de uma dança de proporções infinitas; cada qual com o seu timbre único, sua coloração, seu volume e luz.
Enfim, desde então imagino que tudo no tempo e no espaço integra esta poesia regida por uma musicalidade transcendental: uma poderosa e total sinfonia cósmica! Nós somos tão somente meros coadjuvantes, uma porção infimamente pequena e fugaz para compreender a exata extensão desta obra colossal. Nossos sons; ponham-se aà nossos lamentos, dores, brados, bombas, máquinas… Todo o nosso efêmero, frágil e portentoso espasmo diante do mundo é insignificante enquanto a terra gira sobre seu próprio eixo pela galáxia…
Desta maneira, foi que me senti irmanado com o cosmo absoluto. Sou somente uma partÃcula volúvel e instável do todo e por tudo devo zelar: ruas, rios, risos, lares, ecossistemas, biodiversidade… Foi pensando assim e motivado por tais sentimentos de amor fraterno que encontrei inspiração para escrever os poemas que compõem este livro.
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