Longe vou
por andar imaginando
poder levar a vida assim
maravilhado.
Tomei-me perito
em pensar grande.
Careço sempre
estar sonhando.
Tenho um cachorro
de latir pro nada.
Notei também
que alguns bichos
estudaram muito exatos
para nada ficar fazendo.
Realizam tudo
tão perfeito que nem
nada quase se nota
se não ficarmos bem olhando.
Para que
tudo fosse sempre,
foi dado à luz um engenho
de vagalumes.
Fundamos uma escola
para professar o amor:
ConcluÃmos que é indispensável
ter que abraçar as árvores,
conversar com as plantas,
ficar amigo dos bichos.
Mestre em amor
se torna quem consegue ouvir
o rumor das estrelas
ou sentir o perfume
da rosa dos ventos.
Numa tarde ensolarada fui ao Ateliê Caelum com um poema em mãos. Já conhecia Mauro, mas estava levando até ele um poema que havia escrito em sua homenagem. Emocionado, ele mostrou-me suas técnicas, seus trabalhos, seu espaço sagrado de criação, extensão de sua própria morada. Estava como queria: cercado de si mesmo, de suas obras, ao lado do filho e de sua mulher amada. Declamei-lhe o poema. Mauro ficou ali, em silêncio, olhando-me com ternura; como se deve ficar nessas horas, visivelmente comovido, sorvendo o doce mel de cada palavra; depois me abraçou e não conteve as lágrimas. Agradeceu-me. Confesso que também chorei. Dai por diante ficamos mais próximos. Pena que tardiamente. A pouco menos de um mês de Mauro virar passarinho, terminei este livro a partir de alguns pontos de inspiração, sendo que um, dentre eles, fora a sua célebre frase: “Sonhar Pode”, com a qual marcava vários pontos da cidade, escrevendo-a de próprio punho e, a qual em sempre emendava: “Sonhar Deve”. Como poderia imaginar que fossemos perdê-lo tão prematuramente? Todavia, mesmo que postumamente, faço-o agora.
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