Porque te ferem
a carne casta?
Porque te seguem
em água vasta?
Porque de amargura
o mar se infesta?
Porque tal loucura
a mente gesta?
Tu que brincas
rente a proa do barco,
que não te importas
de saltitar à toa,
que és todo candura
num lar de prata,
que não entende
quem te maltrata.
Pedra ave
o mar contempla.
Mancha de óleo:
Ave branca ficou
preta de petróleo.
I
Boca da Barra
No boqueirão da barra
o rio deságua terra enferrujada
assanha as garras
sobre as pedras emparedadas.
Com fios de nervosas nervuras
e infindas funduras
rio e mar se fundem
ao granito gris das penhas.
O rio no sal enfim afoga
a sonora sÃlaba de suas águas.
Homem,
quase tudo poderás
dizer com as máquinas
que inventaste:
Porque e como
quedam-se as ondas
pelos mares do mundo.
Para onde é que se vão
as aves quando arribam,
como nascem
ou morrem as estrelas.
Consegues mensurar
a altura das cordilheiras,
a velocidade dos ventos,
a distância entre os astros.
O tema marÃtimo sempre ocupou forte relevância em minha criação poética, mas meu desejo era escrever um livro inteiramente voltado para esta temática. Foi por força desta vontade que este livro que vos apresento agora tomou corpo.
Ele foi dividido em cinco capÃtulos, em Maré Jusante, o primeiro deles, é formado por um único poema, “Construção das Ãguasâ€, que narra à paisagem da foz do rio Itajahy e seus primeiros cenários, os molhes e os faróis, o movimento contÃnuo dos barcos, o porto pesqueiro, a área portuária, os estaleiros e a cidade que erguida e cresceu à s suas margens.
No capÃtulo seguinte, Maré Mansa, segue-se uma espécie de cartografia náutico-poética das zonas costeiras; a narrativa versa todos os aspectos da orla marinha e suas nuanças; restingas, manguezais; dunas, falésias, grutas, croas de areias, corais…
O terceiro capÃtulo; Maré Negra; é composto por poemas voltados à degradação do meio ambiente pela intervenção humana, que cada vez mais, interfere no andar natural dos rios, dos mares e oceanos do mundo inteiro.
Já no quarto capÃtulo, Maré Azul; a poesia ganha contornos lúdicos, amenos; e harmoniza as coisas do mar com paisagens e passagens da temática marÃtima.
No último e quinto capÃtulo; Maré Alta, além de conter alguns poemas de sublimação marinheira, há ainda o longo poema Manancial, o qual nos remete a dualidade de um mar genuÃno e um mar interior, o mar de dentro, que pode mudar a qualquer momento, tal qual um mar real.
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